Desafios para a formação de públicos, segundo Isaura Botelho (Encontro Públicos da Cultura, 10)

Ainda na manhã do último dia do Encontro Públicos da Cultura,   Isaura Botelho, pioneira na pesquisa de política cultural no país, apresentou suas "Observações sobre a formação de públicos e seus desafios", observações nascidas, segundo ela, da angústia do gestor público em busca de respostas, mais do que de especulações teóricas. [Exatamente como este blog.]

Para Isaura, um pressuposto equivocado ainda preside a maior parte das políticas de cultura, a saber, o da democratização cultural. Tais políticas dedicam-se a "converter" pessoas incultas em cultas mediante sua exposição pura e simples ao legado universal da alta cultura. Ocorre que as pesquisas realizadas em diversas partes do mundo ao longo do último meio século não deixam dúvidas de que o gosto artístico não é inato, mas necessita ser formado e/ou transmitido. Tais políticas "de oferta" formulam-se e implantam-se "de cima para baixo", em geral priorizando o combate às barreiras econômicas (como o preço dos ingressos) ou geográficas (a localização dos equipamentos culturais) ao acesso. Outros obstáculos - simbólicos, cognitivos, sócio-demográficos - são subestimados ou simplesmente ignorados, bem como outras dimensões da cultura - como o local, o popular e o tradicional. Paradoxalmente, políticas de fomento, subvenções e incentivos, em curso há décadas no Brasil, reforçam essas desigualdades, favorecendo o consumo justamente daquela parcela do público que detém as condições de acesso e os códigos para a compreensão, em consequência de suas condições de renda e educação.
Para Bernard Lahire, só se pode falar em desigualdade de acesso quando existe a vontade deste acesso, vontade que não se forma por si, não é uma necessidade natural. Mesmo o indivíduo nascido em classe elevada ou que atingiu alto nível de escolaridade não irá necessariamente desenvolver esta vontade, que dependerá ainda dos hábitos adquiridos no ambiente familiar. [A cultura dos indivíduos,  Artmed] A escola teria um papel importantíssimo neste processo de formação de público, já que mantém os indivíduos por longo tempo sob sua influência direta, permitindo compensar, ao menos em parte, as desigualdades dos ambientes familiares. No entanto, o lugar das artes em geral ainda é marginal no ambiente escolar.
Para Karl Manheim, democratizar, ou seja, ampliar e incluir no campo das artes, passa ainda e necessariamente por questionar a ideia de talento ou gênio como um dom divino, provinda de culturas autoritárias. Privilegiaríamos assim a ideia de processo e de gênese, permitindo “explicar fenômenos em termos de contingência antes que de essência”. [Sociologia da Cultura, Perspectiva, 2013]. Sob essa ótica, torna-se evidente a pobreza de horizontes de uma política cultural que compreenda o cidadão como mero consumidor de bens e serviços culturais.

Na década passada, Isaura coordenou a pesquisa pioneira O uso do tempo livre e as práticas culturais na Região Metropolitana de São Paulo, na qual foram entrevistadas 2002 pessoas acima de 15 anos. Seguiu-se uma etapa qualitativa, em que 93 participantes da amostra anterior responderam a questionários mais detalhados. As entrevistas revelaram que muitas das pessoas que não se destacavam por seu nível de acesso ou consumo cultural expressavam-se criativamente através de práticas amadoras. Por outro lado, diversas pessoas com alto capital econômico e formação escolar interessavam-se pouco por atividades culturais. A pesquisa produziu ainda um vídeo com 54 min, intitulado "Inventar no cotidiano.” [O título faz referência à obra de Michel de Certeau, A invenção do cotidiano. Vozes, 2013]

O instável cenário dos públicos culturais, por Pedro Guell (Encontro Públicos da Cultura, 9)


Professor de Sociologia na Universidade do Chile, Pedro Güell apresentou um contraponto crítico ao bordão quase unânime (apoiado por este blog) que reclama da ausência crônica de dados e sustenta a necessidade de pesquisas na área cultural. Fazendo as vezes de advogado do diabo, ele argumenta que houve um grande incremento na produção de informações sobre o setor, ao longo dos últimos trinta anos, embora em geral restritas ao consumo de produtos e frequência a eventos, com atenção à estratificação sócio-demográfica dos públicos (segundo classe, idade, renda, etc.). Esses números, porém - adverte - pouco nos ajudam a descrever as experiências do visitante/consumidor em contato com a obra de arte, o efeito ou marca que tal experiência possa eventualmente ter deixado nele e que fará ou não diferença em sua existência futura. O valor intrínseco dessa experiência, que justificaria em última análise os esforços da política cultural pela ampliação do acesso às artes, parece não suscitar dúvidas, fechando-se o campo cultural sobre si mesmo, de forma autônoma.

Güell aponta dois grandes desafios para as pesquisas, no contexto da América Latina: reconstruir a forma como as audiências interagem com a arte e estudar as consequências dessa interação. Ele propõe uma classificação dos estudos de públicos em três categorias, conforma suas principais perguntas:
1. Quem é o público? Quem consome, frequenta ou tem acesso, ou não, e por quê? Desde sempre, este tipo de pesquisa vem demonstrando conexão entre escolaridade, renda e consumo cultural. O interesse que as move é justificar as políticas que visam democratizar o acesso. Tem-se aqui como premissa que o acesso é um bem (valor) em si, uma experiência civilizante, mas em geral não se ousa interrogar sobre a intensidade, a compreensão ou os efeitos subjetivos dessa experiência.
2. Que motivações tem o público? Aqui o sujeito tem um rol pouco mais ativo. Pesquisam-se as formas de uso, as abordagens, os modos de interpretar obras e espaços culturais. Por exemplo, num contexto em que a demanda não cresce ou cresce pouco, apesar dos esforços das instituições - que além disso competem entre si, necessitando precisam atrair e motivar os seus clientes - pode-se inferir mudanças no perfil dos públicos.
3. Que relações existem entre o consumo e a construção da identidades? Aqui, coloca-se o valor na experiência, por excelência individual, dos sujeitos frente à obra de arte. Considera-se que não há públicos (grupos) constituídos a priori, e sim que eles são formados através da experiência, de maneira decisiva.

Não se trata, esclarece, de desprezar as pesquisas tais como são feitas hoje, e sim buscar novas maneiras de integrar e interpretar as informações existentes, à luz de lógicas distintas. Entre os principais problemas que a seu ver podem fragilizar os resultados de estudos de público e comprometer seus resultados, ele aponta:
  • A-historicidade: São raros os estudos que procuram relacionar a história da arte com a dos públicos ou mesmo das instituições culturais (e econômicas). As consequências da experiência estética não são consideradas em longo prazo.
  • Coletivos ativos, indivíduos passivos. Embora a experiência estética seja por excelência individual, os indivíduos desaparecem dentro de seus grupos de idade, sexo, renda ou escolaridade. Só o artista reivindica o direito a ser considerado um indivíduo criativo e autônomo. [Essa crítica foi formulada por Bernard Lahire, em A cultura dos indivíduos.]
  • Exterioridade de públicos, instituições e obras, componentes de um mesmo sistema que são considerados de forma isolada. As lógicas do sujeito, das instituições e dos bens culturais são determinantes das práticas culturais (ver diagrama na foto).
Em suma, os diversos fatores que influem sobre as práticas sociais são interdependentes. A experiência estética depende de uma convergência desses fatores, difíceis de serem isolados, podendo surgir efeitos inesperados e não intencionais. Além disso, os próprios conceitos de arte e patrimônio cultural vêm sendo questionados desde o século passado, assim como a subjetividade dos indivíduos. Para Güell, deve-se estudar as interações da subjetividade, em constante formação, com a prática cultural, no espaço concreto das instituições culturais. Sendo que neste caso, “prática" inclui as diversas condições materiais em que atuam os diversos atores e suas consequências, em contínua redefinição.

As práticas culturais dos portugueses no contexto europeu, por Rui Telmo Gomes (Encontro Públicos da Cultura, 8)

Seguimos compartilhando os resumos comentados do Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado pelo SESC-SP no mês passado, agora com a palestra do sociólogo Rui Telmo Gomes, pesquisador do Observatório das Actividades Culturais de Portugal (OAC). Criado em 1996, o OAC é uma associação sem fins lucrativos, tendo por associados fundadores o então Ministério (hoje Secretaria) da Cultura, o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e o Instituto Nacional de Estatística. Ocupa-se da produção e difusão de conhecimentos que possibilitem dar conta, de uma forma sistemática e regular, das transformações no domínio das atividades culturais, com destaque para estudos de públicos, eventos culturais e respectivos impactos, políticas culturais, agentes (artistas, usuários de equipamentos culturais, etc.) e estudos de levantamento de instituições culturais (bibliotecas, museus, etc.). Vale uma visita ao site para conhecer a quantidade e qualidade dos estudos que lá se encontram publicados, com a grande vantagem (para nós brasileiros), de estarem em nosso idioma. 
Gomes apresentou alguns dados sobre o consumo cultural hoje em Portugal, os quais indicam um crescimento geral do consumo cultural e nas despesas das famílias com cultura e lazer nas últimas décadas, embora a tendência de retração recente, devido à crise econômica. Certos setores apresentam crescimento maior do que a média, como o uso da internet e TV a cabo e a frequência a eventos culturais externos. Desde meados da década passada, vem ocorrendo redução na prática de ler jornais, bem como na frequência a  espetáculos, embora tenha havido aumento na porcentagem de leitores de livros e frequentadores de salas de cinema. Há um aumento da oferta de atividades ou serviços educativos nos museus e centros culturais.
Interessante notar em especial as tendências simultâneas de aumento da frequência de saídas e de atividades domésticas de consumo, ou seja, não há evidências de que a ampliação da oferta que nos chega através de aparelhos eletrônicos domésticos implique no "enclausuramento" das pessoas em suas casas, como poderia se pensar.
Algumas diferenças surgem na comparação entre os contextos português e europeu, que refletem fatores estruturais e também os efeitos da crise financeira, que não são os mesmos nos 27 países da UE. Por exemplo, Portugal destaca-se positivamente na quantidade de leitores, frequência a salas de cinema, galerias, espetáculos e bibliotecas. (Quem quiser conhecer os dados recentes sobre participação cultural na União Europeia pode consultar os resultados da pesquisa Eurobarometer)
Há uma tendência geral à redução do papel do estado na cultura, agravada com a crise econômica, que se concretizou não apenas no rebaixamento do antigo Ministério em Secretaria, mas também na redução de 40% do orçamento, ao longo dos últimos anos. Outra tendência, vinculada ao contexto europeu, é o fortalecimento da perspectiva das Indústrias Culturais e Criativas (ICC), que no caso do Observatório leva a restrições nas pesquisas, priorizando-se aquelas que reflitam processos econômicos.
(Esta tendência foi confirmada por outro pesquisador do OAC, José Luiz Garcia, presente no Colóquio Internacional de Observatórios de Cultura realizado pela Unilasalle em Canoas, dias 28 e 29/11, quem afirmou que a Secretaria de Estado da Cultura deixará de aportar recursos, o que na prática tornará o OAC em instituição totalmente acadêmica)

A acessibilidade nos museus, nos EUA e no Brasil (Encontro Públicos da Cultura, 7)


A próxima conferência do Encontro Públicos da Cultura, no dia 13 de novembro, tratou de um tema muito interessante embora pouco abordado. Carrie McGee apresentou o Programa de Acessibilidade do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), que atende adultos e crianças com deficiências de todo o tipo, bem como autistas e portadores de transtornos mentais diversos (Demência, Alzheimer), veteranos de guerra, etc. O programa recebe grupos ou visitantes individuais, com atendimento diferenciado, empregando recursos como audiodescrição e experiências táteis. Também oferece atividades artísticas para pacientes internos em hospitais. Os programas são extensivos aos familiares e eventualmente contemplam exposições dos trabalhos criados pelos participantes. Uma curiosidade é que os aparelhos de audiodescrição são frequentemente requisitados por pessoas sem deficiência, que simplesmente desejam informação com maior detalhamento. Da mesma forma, pessoas sem deficiência, ao saberem que as PCDs tem permissão para tocar em esculturas (sob condições estritas), manifestam o desejo de ter esse mesmo "direito".

Ainda no mesmo tema, a próxima palestrante foi Amanda Tojal, da empresa www.arteinclusao.com.br. Ela fez um breve apanhado sobre a evolução da acessibilidade no Brasil, que ganha impulso somente a partir dos anos 90, após a nova Constituição. Considerado o acesso à cultura como um direito, justifica-se desde então o esforço das instituições para estender este acesso a todo e qualquer cidadão. Contudo, embora muitos gestores ponderem que o elevado custo e esforço necessários para assegurar a acessibilidade são desproporcionais ao tamanho deste público específico - uma minoria - é fácil observar que, antes de qualquer disposição física dos espaços, a atitude das pessoas é o que faz a diferença. Além disso, é a presença dessa minoria que promove a transformação do espaço, uma vez que o público (qualquer público) é por excelência sujeito, que atribui significado continuamente às obras, interpretando-as em seu contexto, postura ativa que deve ser estimulada (e não reprimida) pelas instituições. E por fim, uma evidência que temos dificuldade de encarar é que qualquer um, de um momento para outro, pode passar a ter necessidades especiais, devido a acidentes, enfermidades ou simplesmente pelo avanço da idade. Nestes casos, é importante ainda notar que tais programas ajudam a combater a depressão e o isolamento que com frequência agrava o estado de saúde das PCDs.
Mas que "minoria" é essa, mesmo? Segundo Amanda, dados do censo do IBGE em 2010 informam que 23,9 % dos brasileiros declaram-se "com algum tipo" de deficiência, cifra que atinge 45 milhões de pessoas. A estimativa da Organização Mundial da Saúde para a percentagem da população mundial é de 10%.
O conceito de acessibilidade, assim, amplia-se para além da questão física, passando a abranger o acesso à informação, a publicidade dos acervos, etc. Relaciona-se também com distintas disciplinas, pois demanda a participação de conservadores, arquivistas, arquitetos, atendentes, mediadores, profissionais de comunicação, entre outros. Daí resulta o conceito atual de acessibilidade, incorporando três dimensões: física (acesso ao prédio), comunicacional (acesso à informação) e atitudinal (postura inclusiva do atendimento, não limitado necessariamente às PCDs).

NOTA – Outra instituição que mantém um programa permanente de acessibilidade, já com uma década de existência e que inclui uma "galeria tátil", é a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Dois dedos, dois neurônios: as práticas culturais dos jovens franceses, por Sylvie Octubre (Encontro Públicos da Cultura, 6)


A programação do Encontro Públicos da Cultura seguiu com a palestra de Sylvie Octubre. Socióloga, Sylvie atua no Departamento de Estudos, Pesquisa e Estatística (DEPS) do Ministério da Cultura e Comunicação da França (assim como seu colega Olivier Donnat cuja conferência da véspera resumimos nesta postagem). Ela concentra suas pesquisas recentes nas práticas culturais dos jovens entre 15e 29 anos, e em especial como essas práticas se relacionam com as profundas e rápidas transformações sociais dos últimos anos, devidas às novas tecnologias de comunicação, mudanças na estrutura familiar, no mercado de trabalho e sistema educacional, entre outros fatores. 

Embora as tendências mais visíveis do individualismo e do afrouxamento dos laços familiares, e o estímulo à autonomia visado pelo sistema educacional, os jovens estão permanecendo mais tempo em casa, sob a dependência (parcial ao menos) dos pais ou eventualmente do Estado, através do seguro-desemprego. (Os dados divulgados pelo IBGE recentemente demonstram essa mesma tendência no Brasil, ver por exemplo http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=140597)

Outras características marcantes nessa geração são um forte desejo de experimentação mobilidade e participação; as práticas artísticas amadoras; a voracidade do consumo cultural que se combina com a fragmentação e infidelidade do gosto, devido à extrema diversidade da oferta. Em paralelo à formação de grandes conglomerados globais, determinados produtos da indústria cultural transitam entre os diversos campos, apagando fronteiras antes nítidas: jogos viram livro, que viram filmes, que viram brinquedos, que viram roupas, etc. A sociabilidade fora de casa (saídas noturnas, viagens) não foi seriamente afetada pela cultura digital, pois segue havendo intensa frequentação de espaços culturais (ainda que nem todos). 

A propalada perda da atração dos jovens pelo livro, Sylvie ressalta, é anterior à era digital, embora tenha se acentuado através dela. Ao responder a enquetes, os jovens declaram ler clássicos quando estão na escola, e de repente param de ler, logo que saem dela. Há uma tendência do gosto médio a priorizar o entretenimento e a diversão, ainda que muitos filmes com contextos históricos tenham feito sucesso. Há uma tendência ao maior cosmopolitismo cultural na França, com o aumento de consumo de produtos em idiomas estrangeiros (séries de TV, filmes, histórias em quadrinhos), especialmente o inglês e o árabe, coloca em jogo as políticas culturais tradicionais, muito centradas na francofonia.

Mudanças ocorrem também com a representação do lugar e tempo do evento cultural e da experiência estética, antes situados firmemente nos espaços sacralizados do teatro, da sala de concertos, da biblioteca, do museu. Hoje o consumo fragmenta-se, pode ocorrer em qualquer lugar, a qualquer momento, e frequentemente com a mediação de uma tela. Há um enfraquecimento da autoridade tradicional, "certificadora" do valor cultural, daquela pessoa, instituição ou outra fonte que costumávamos consultar para saber o que era preciso ler, ouvir ou assistir. Mudanças semelhantes às que vem sofrendo a posição dos professores em sala de aula. Essa pessoa ou instituição, que antes monopolizava a informação, agora tem de conformar-se ao papel de mediador, já que a informação encontra-se disponível para qualquer um, a qualquer hora, em qualquer lugar. Precisa porém desenvolver essa nova competência, que consiste em auxiliar a hierarquizar e filtrar a informação, cujo volume chega a ser aterrorizante. Assim como informação não se confunde com cultura, também o desenvolvimento de novas competências pelos jovens, associadas às tecnologias digitais, não produz por si só um saber reflexivo.

Construindo a demanda pelas artes, por Alan Brown (Encontro Públicos da Cultura, 5)

Fechando o primeiro dia do Encontro Públicos da Cultura, no SESC Vila Mariana, em São Paulo, ouvimos a conferência do norte-americano Alan Brown, intitulada Building demand for the arts.  
Ele iniciou com um panorama sobre os termos usados em inglês para descrever o consumo cultural, cuja quantidade e semelhança nos confundem um pouco, entre eles: demand, a demanda ou procura do público; attendance, o público ou audiência que se desloca a determinado local; outreach, ou o alcance, abrangência territorial ou em termos de número de espectadores/consumidores de um produto ou instituição; participation, involvement ou engagement, termos que implicam um envolvimento mais ativo, extrapolando o conceito habitual de público (que é passivo). Contudo, seja qual for o que mais nos agrade, entre os termos citados, é certo que ampliar a difusão das artes e o acesso público são desafios cotidianos para todos, quer sejamos artistas, patrocinadores, gestores, etc.

Em seu livro Getting in on the act: How Arts Groups are Creating Opportunities for Active Participation (escrito com Jennifer Novak-Leonard para a Fundação Irvine), Brown afirma, com base em estudos de caso em um grande número de instituições, que esses conceitos vem sendo redefinidos no passado recente, à medida que o público demonstra preferência por formas de participação (e expressão) mais ativas. Essa tendência traz grandes desafios e oportunidades para o setor artístico, que precisa adaptar-se a novas realidades demográficas e tecnológicas. Em outras palavras: o público já não se conforma facilmente em ser "apenas" público.


O livro propõe um modelo com 5 diferentes "níveis" de participação. A figura ao lado ilustra a progressão contínua entre a situação de simples espectador (cujo papel é mínimo ou nulo, em relação ao conteúdo artístico) até o extremo oposto, em que já não existe o que se poderia chamar de "público", uma vez que todos os presentes estão envolvidos no processo criativo. 

Brown ilustrou sua palestra com  estratégias utilizadas por instituições norte-americanas em busca de maior engajamento de seus públicos, envolvendo a ocupação de espaços ou uso de formatos não-convencionais de eventos, seja incluindo projeções visuais ou textos em concertos de música erudita ou espetáculos de dança; seja pelo uso intensivo de redes sociais. A Filarmônica de Los Angeles, por exemplo, recomenda através do site os programas de seus próximos concertos com base nas respostas do internauta a determinadas perguntas. Já a New World Symphony de Miami, orquestra com apenas 25 anos de existência, notabiliza-se pelo uso pouco ortodoxo de recursos da música pop, além de permitir uma maior proximidade física com os músicos em seus concertos.

Outra questão importante que merece atenção é como as preferências estéticas são adquiridas ou formadas pelos indivíduos, ou por que preferimos determinados tipos de expressão em vez de outros. São processos que se desenvolvem ao longo de uma vida e envolvem descobertas que podemos fazer autonomamente, mas também por recomendações de professores, amigos, artistas, vendedores, etc. Ou ainda pelos meios de comunicação, de forma mais passiva e com maior participação do acaso. Não sabemos muito sobre como interferir nesses processos, sendo necessárias pesquisas e também novas experiências neste sentido.

O Museu do Louvre e seus públicos, por Anne Krebs (Encontro Públicos da Cultura, 4)



Ainda no primeiro dia do Encontro Internacional Públicos da Cultura, ouvimos o depoimento de Anne Krebs, encarregada do Departamento de Estudos e Pesquisa do Museu do Louvre, em Paris. Anne nos propõe uma reflexão sobre a relação entre museus e seus públicos, e também sobre valores, aquilo que atrai as pessoas aos museus (ou outros espaços culturais). 

Uma das grandes dificuldades dos gestores de museus relaciona-se à escassez de estudos de público. Numa instituição como o Louvre, por exemplo, parte dos visitantes chega como por acaso, sem maior interesse ou informação, simplesmente acompanhando amigos ou familiares. Ao nos dizer por que não se interessam pelo museu ou, de forma mais ampla, pelos valores da cultura erudita, esses visitantes podem fornecer informações valiosas para buscarmos a ampliação do público.

Anne adverte que as pesquisas de público não tem como objetivo adequar acervos e exposições a um "visitante ideal", mas sim a busca de uma linguagem capaz de atingir aquele não-público, que se encontra distante da experiência letrada ou francamente marginalizado. (Registre-se a consoladora informação - para quem como nós costuma reclamar do escasso valor atribuído aos estudos e pesquisas de público no Brasil - de que o departamento de pesquisas do Louvre funciona com não mais de cinco funcionários.)

Outra dificuldade relaciona-se à manutenção dos espaços, já que as rendas oriundas do turismo cultural terminam irrigando mais o ramo hoteleiro do que as instituições culturais. Atualmente, cerca de 10 milhões de visitantes acorrem por ano ao Louvre, número que se deve em grande parte ao crescimento do turismo cultural, ocorrido na última década. Há contudo uma grande concentração desses visitantes, que se dirigem majoritariamente os espaços da Capital e bem menos a outras cidades francesas. Mesmo em Paris, há vários museus pouco visitados.
No século XIX, o papel de um museu era educativo, num sentido moralizante inclusive, função que se atribuía à arte em geral. A visitação era restrita a poucos dias da semana, mulheres só podiam entrar de chapéu, crianças, nem pensar, eram um perigo para as obras. Tal situação começa a se alterar na França em meados do século XIX, seja pela vontade do Estado francês de promover a cultura nacional, seja pela demanda do público, documentada no rico acervo de correspondência do Louvre. Ao longo do tempo, o museu deixa de ser apenas um depósito seguro para bens preciosos, passando a acolher diversos públicos e agregando as funções de instrução da juventude, fortalecimento do turismo, entre outras, sem deixar de preservar o seu acervo. Não obstante, ainda hoje o visitante encontra no museu um espaço "neutro" em certa medida, presidido pela autoridade "pura" do saber, num mundo exterior onde os discursos cotidianos são sustentados ora pela política ora pelo interesse comercial.

O tema que despertou particular interesse, nessa palestra, foi um programa do Museu que promove a prática e a apreciação artística nas prisões. A população carcerária é majoritariamente do sexo masculino, com média de idade próxima dos 30 anos, baixa ou nenhuma escolaridade. Há muitos imigrantes. Evidentemente, são pessoas marcadas pela violência, drogas e outros problemas psicológicos. Encontram-se privados de acesso a internet (e ao mundo exterior de uma forma geral), situação esta da qual compartilham 70% dos habitantes do planeta. Nessa descrição, tem-se um público oposto ao típico frequentador do Louvre, cujo estudo é particularmente interessante para a compreensão das causas da não-participação de uma grande parcela da sociedade na "alta" cultura. 
Além da releitura e interpretação das obras, o programa estimula a atenção ao ambiente, agregando atividades de decoração, jardinagem e paisagismo. Em vista disso, os detentos que decidem participar recebem autorização para trabalhar com ferramentas normalmente proibidas, bem como maior flexibilidade nos horários. Evidentemente, isso só é possível devido à grande receptividade da administração carcerária, que compartilha os resultados das pesquisas. Os participantes atribuem grande valor a atividade, devido à oportunidade de se expressar, ao preenchimento do tempo "vazio", que implica o processamento de lembranças do passado e a projeção do futuro com alguma esperança, para além dos muros da prisão. Mesmo assim, nem todos se interessam em participar, e as dificuldades de ampliar esse público interno são enormes. Algumas exposições feitas na prisão chegaram a “retornar” ao museu, ocupando temporariamente um espaço lá.
Fato surpreendente, narrado por Anne, foi que vizinhos de uma penitenciária, ao saberem que ali ocorria uma exposição - com trabalhos dos detentos e reproduções do museu - pediram licença para visitá-la. Tal fato, ao tempo em que revela a situação de indigência da vizinhança em termos de acesso à cultura, demonstra que o programa, para além de seus próprios objetivos, logrou também modificar, em alguma medida, os sentimentos dominantes de rejeição ou vergonha daqueles que residem na vizinhança de um presídio. 

Perguntada se havia dados sobre os visitantes brasileiros ao Louvre, a palestrante respondeu que a quantidade deles quadruplicou na última década. São em geral jovens, curiosos e autônomos, ficam mais tempo do que a média no museu e usam pouco as ferramentas destinadas a grupos, preferindo conversar com seus pares.

Pensar os públicos na América Latina, por Ana Rosas Mantecón (Encontro Públicos da Cultura, 3)

A segunda palestrante, no primeiro dia do Encontro, foi Ana Rosas Mantecón, pesquisadora e professora do Depto. de Antropologia da Universidad Autónoma Metropolitana do México em Iztapalapa.

De saída, reconheceu ser arriscado o propósito de falar de "públicos latino-americanos", porém apesar da diversidade dos contextos nacionais, acredita que é possível e necessário repensarmos alguns paradigmas comuns a nossas políticas culturais.

Prefere o termo "práticas culturais", em vez de "consumo", pois trata-se de atos que compõem a maneira de compreender e interagir com o mundo, e não atos passivos. Como quaisquer práticas sociais, vinculam-se fortemente às desigualdades, por isso a compreensão daquelas ajuda a compreender estas desigualdades, seja entre cidadãos, seja entre países.

Ao esboçar um panorama histórico, desde os anos 1920, percebe-se um ciclo de crescente projeção mundial das produções culturais latino-americanas (na literatura, artes plásticas e música, entre outras áreas), o qual se encerra nos anos 1970. Neste período criaram-se importantes editoras, importantes para a ampliação do mercado letrado; bem como produtoras de cinema (principalmente no México, Brasil e Argentina)

A partir dos anos 1980, sob a onda neoliberal-globalizante, muitas dessas empresas desapareceram. Salas de cinema fecharam, tendo como resultado uma redução da participação da América Latina nas exportações de bens culturais para para 2,2% (Unctad, 2008), quando a China já atinge os 20%. No item artesanato, a China já exporta 33% do volume total, contra 2% da AL.

Internamente, ou seja, entre os países da AL, a situação não é mais animadora, pois a produção concentra-se em poucos países (e empresas): 90% vem de México, Brasil ou Argentina. Ao mesmo tempo, 93% das salas de cinema são controladas por empresas dos EUA.

Na TV, em muitos países a população não enxerga através dela sua diversidade cultural.  Mesmo em países com importante produção televisiva, a TV paga tem alta dependência da produção estadunidense. No México, 3/4 da programação exibida em TV fechada é produzida nos EUA (contra apenas 1/3 na TV aberta).

Já os índices de exclusão cultural são altíssimos na AL, conforme as pesquisas existentes. Uma grande parcela da população não leu livros nos últimos doze meses: no México são 68%, no Chile 58%, na Colômbia 47%, na Argentina 43%. 24% da população mexicana o e 22% da colombiana não tem nenhum livro em casa.

No campo musical, há avanços. O continente tem uma produção intensa, logrando certo protagonismo nos últimos tempos, por força das novas tecnologias que permitem transpor fronteiras com rapidez, apesar dos oligopólios globais que dominam o mercado formal. (Quatro conglomerados controlam 80% de um mercado em que a América Latina representa apenas 2,5%.) Em compensação, 43% da população da AL já tem acesso a internet e 70% usam telefone celular. As novas tecnologias potencializaram um mercado cultural de baixo custo, acessível às populações menos favorecidas. (Cabe refletir contudo, penso eu, se esse mercado gera renda e pode ser sustentável)

As políticas culturais na AL tem se endereçado tradicionalmente aos artistas e ao fortalecimento da oferta de produtos culturais, mais do que ao público. Pouco estudamos os processos de longo prazo em que esses públicos são formados, preferindo assumir a crença de que o contato do público com a obra produz automaticamente a revelação da arte. No entanto, públicos não se formam por magia, e são muitas as barreiras que impedem um acesso universal à cultura. Uma delas é a idade, barreira que atua especialmente contra a participação na cultura digital, de importância crescente no conjunto da produção. Os jovens entre 15 e 22 anos são os principais consumidores de produtos culturais, crescidos em um ambiente muito mais comunicativo e amplo que as gerações anteriores. Outras barreiras são os custos de ingressos e de transporte; as distâncias geográficas...

O acesso real e efetivo, com pleno gozo estético, implica processos prévios de alfabetização,  nas múltiplas linguagens. Para isso, é fundamental conhecer melhor os públicos, através de pesquisas, repetidas ao longo do tempo. São necessárias políticas culturais que visem aumentar a participação da economia criativa no conjunto das economias locais e nacionais; políticas educacionais e informacionais que visem à alfabetização em TIC e produção  audiovisual, a universalização da banda e a promoção da diversidade cultural. Tudo isso sem deixar de apoiar iniciativas solidárias, participativas, em rede...

Olivier Donnat e as pesquisas sobre práticas culturais na França (Encontro Públicos da Cultura, 2)

Uma das principais atrações do seminário foi a intervenção do francês Olivier Donnat,intitulada O conhecimento de práticas culturais: medir, avaliar, qualificar. Sociólogo do Départament des études de la prospective et des statistiques (DEPS) do Ministério da Cultura e Comunicação da França, Donnat é Doutor em Economia e autor de diversas obras no campo da Sociologia da Cultura, entre as quais Les pratiques culturelles des Français à l’ère numérique.

Alertando para um certo “presentismo” característico do consumo cultural (e também das pesquisas) na era da comunicação instantânea, em que nos sentimos inclinados a receber qualquer informação como novidade absoluta, Donnat propõe-se a recuperar um percurso de quase meio século, a partir da realização das primeiras pesquisas sobre práticas culturais na França, ainda nos anos 1960, idealizadas como ferramentas para compreender os hábitos culturais dos cidadãos, objeto das políticas do então recém criado Ministério de Assuntos Culturais.
O Estado Francês do bem estar no pós-guerra, centralizado, preocupava-se com as diversas questões sociais, buscando descentralizar a gestão dos recursos e incluindo a cultura com o objetivo de democratizá-la, tornando acessíveis ao maior número de franceses as obras capitais da França e da humanidade. Em vista disso, era necessário saber quem eram as pessoas as quais se dirigia essa política.
A primeira pesquisa, foi a de Pierre Bourdieu, realizada em 1963, com o objetivo de responder à pergunta "qual política precisamos implantar?" (Ver o livro O amor à arte: os museus de arte na Europa e seu público, escrito com Alain Darbel) Partia-se de uma perspectiva positivista, visando obter uma fotografia factual das ações e práticas dos franceses. Não se perguntava o que eles pensavam, mas o que haviam feito nos últimos 12 meses. Constatava-se uma defasagem entre o que o entrevistado declarava e o que realmente havia feito.
Os focos principais de interesse dos pesquisadores, naquele início, dividiam-se entre a sociologia da cultura clássica (“alta” cultura), seus bens culturais e lugares por excelência (teatros, museus, bibliotecas); mas também as práticas de lazer, assunto que passava a interessar à medida que se constatava um aumento do tempo livre dos trabalhadores dos países industrializados; e a sociologia dos meios de comunicação, cujo poder de alcançar multidões não cessava de crescer, sucedendo a TV ao rádio como protagonista naquele momento.
As primeiras interpretações davam conta de uma cultura repartida de modo desigual, justificando a necessidade de recursos para sua democratização. Formou-se desde então uma aliança entre os pesquisadores que produziam esses dados e os militantes da democratização, sobretudo no campo da educação popular, alavancando a demanda por esses recursos.
Tal quadro altera-se a partir dos anos 1980, quando o orçamento da cultura é duplicado pelo governo socialista. Acentuam-se desde então as complexidades, de que os estudos nunca terminam de dar conta: o advento dos computadores; a legitimação de novas expressões artísticas (rock, jazz, HQ, moda) e mesmo da indústria cultural (introduzindo a necessidade de pensar o viés econômico); e ainda a fragmentação do “público” em “públicos” (os jovens, os idosos, os deficientes, as mulheres, etc.) demandando diferentes propósitos para a política cultural, onde antes parecia suficiente o de “democratizar”.
Neste momento, causa forte impacto o lançamento da obra do pensador liberal Alain Finkielkraut, A derrota do pensamento (traduzido no Brasil pela Paz e Terra, 1988) que criticava, no contexto global do neoliberalismo, a democratização, ou horizontalização do conceito de cultura como uma capitulação à barbárie, pelo apagamento ou negação das referências da “alta” cultura. Neste momento, parece desfazer-se a aliança existente, quando parte dos militantes da democratização encontram nas pesquisas as provas do fracasso das políticas culturais, que após vinte anos não haviam alterado significativamente as condições de acesso da maioria da população.
Passados outros 20 anos, de certa forma temos uma situação que justifica as pesquisas, uma vez que o rápido avanço das tecnologias de informação e comunicação transforma velozmente nossos hábitos, de modos que ainda não chegamos a compreender. No novo contexto, destacam-se três características: o Estado é mais modesto em suas pretensões, repensando continuamente o seu papel no novo capitalismo global; surge e ganha força a idéia de diversidade cultural, que atribui a mesma dignidade às diversas formas de expressão, em oposição à democratização, cujo sentido fundava-se na dicotomia alta-baixa cultura; e o foco do pensamento sociológico migra das classes para os indivíduos, tidos como mais livre ou independentes em suas ações e decisões.
É neste contexto que foi realizada a última pesquisa francesa (2008), que parece nos situar no limiar entre dois tempos, entre dois séculos: o pré-digital e o digital. Aumentam as dificuldades de delimitar certas categorias, como ver televisão (No aparelho de TV? Na internet? No celular?). Identificam-se algumas tendências: a popularização da "cultura de tela": quase todos os conteúdos são acessados por meio de alguma tela, mesmo nos “lugares da cultura” tradicionais; um recuo da leitura de livros e impressos, especialmente entre jovens do sexo masculino; um aumento da frequentação que não implica uma real democratização, porque decorre mais do aumento da oferta de cultura e de formação educativa.
Apesar de tudo, algumas constatações dos anos 1960 permanecem curiosamente atuais, entre elas a de que o diploma escolar mantém-se como o fator que explica com mais consistência o nível geral de participação cultural; permanece grande a defasagem entre o consumo dos parisienses e dos demais franceses.
Há porém avanços, com a evolução dinâmica ligada às mudanças generacionais, entre elas um aumento considerável no consumo de música e da produção de espetáculos, um aumento das práticas artísticas amadoras e a perda de importância da televisão.
Para finalizar, Donnat sugere três objetivos fundamentais para as pesquisas de público:
  1. MEDIR: “A recusa de contar raramente está a serviço dos pobres.” Não deixar os números sob o domínio exclusivo dos economistas.
  2. AVALIAR: A existência de oferta de produtos culturais não “revela” magicamente a demanda, é preciso mapear esta, formar o público.
  3. COMPREENDER: O consumo não implica automaticamente a compreensão. É preciso estudar como acontece a interação entre a obra e seu público.

Encontro internacional públicos da cultura (abertura)


Mais uma vez, saímos de Porto Alegre ao encontro dos debates de ponta no campo das políticas de cultura, que ocorrem no Brasil e no mundo.Desta vez, é o Encontro internacional públicos da cultura, realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do SESC de São Paulo, de 12 a 14 de novembro, no SESC Vila Mariana. (Em novembro de 2011, já estivemos aqui para o Seminário Internacional Cultura e Transformação,  Urbana, cujo conteúdo está em parte acessível, no site do SESC-SP.) 
Na abertura, o Diretor regional do SESC-SP, Danilo Santos de Miranda, admitiu que mesmo uma instituição como a que dirige, realizando cotidianamente um grande volume de atividades em suas 33 unidades, não pode se dar por satisfeita se faltar a reflexão sobre o sentido e a razão dessas atividades. Daí a importância das pesquisas, cujos resultados permitam traçar caminhos para que as políticas de cultura possam ir ao encontro desses públicos.
A evolução daquilo que denominamos “públicos” da cultura acompanha a evolução do sentido de “cultura”, tendo de dar conta hoje também das questões da diversidade, da acessibilidade, do direito de participação, como indicadores de uma democracia cultural efetiva. Deve-se levar em conta ainda a imprecisão e a mobilidade dos limites entre produtores e consumidores de cultura, com o incremento do uso das tecnologias digitais que popularizaram o uso de fotos e filmes, por exemplo; ou a "composição" de música eletrônica.
Leia aqui o programa do evento e acompanhe, nas próximas postagens deste blog, um resumo das principais palestras que assistimos.

Estudo do Observatório vai subsidiar discussão sobre mudanças no Conselho Municipal de Cultura

Em reunião do Conselho Municipal de Cultura na noite de ontem, o Secretário Roque Jacoby anunciou o propósito de colocar em discussão a reformulação do Conselho Municipal de Cultura.
Criado em 1997, através da Lei Complementar 399, o CMC vem tendo dificuldades para a obtenção do quorum mínimo (metade dos conselheiros), devido ao grande número de integrantes e a inexistência de remuneração dos conselheiros (ao contrário do que ocorre no Conselho Estadual de Cultura, por exemplo.

Para subsidiar a discussão, que deve ser iniciada por meio de um Grupo de Trabalho, o Observatório comparou alguns dados sobre o nosso CMC em relação aos conselhos de cultura de outras capitais e aos  demais conselhos municipais de Porto Alegre.
O resultado é o documento abaixo, em que se destacam, comparativamente, o grande número de membros (37 no total); a desproporcionalidade entre representantes da sociedade civil (86,5%) e do governo; e um desequilíbrio na representação das regiões do Orçamento Participativo (17 dos 37 membros).

Leia abaixo o artigo resultante dessa pesquisa, apresentada no II Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura (EBPC), em 2014.



Saiba mais:

Legislação referente ao CMC de Porto Alegre
Leituras complementares sobre conselhos de cultura.